segunda-feira, fevereiro 28, 2011

28 de Fevereiro

Na madrugada de 28 de Fevereiro de 2011 às 02,40 h, como há 42 anos atrás, dormia profundamente. Como uma pedra, como se costuma dizer. Ressonando? Talvez.
A essa hora, lá longe, decorria a entrega das estatuetas douradas conhecidas por Óscares. Que premiaram, entre outros, um filme que conta a história de um rei gago.

Na madrugada de 28 de Fevereiro de 1969 às 02,40 h, a terra tremeu em Portugal. Com alguma violência. Numa camarata em Pedrouços, serviço militar obrigatório - longe da guerra em África  - dormia profundamente. Como uma pedra. Fui acordado e empurrado escadas abaixo, para a segurança da parada, espaço amplo, onde era suposto haver mais protecção.

A essa hora, lá longe, em África, não " a nossa ", mas a do Sul, o que fazia a Bé? Naquela manhã na parada, saudades da chamada do correio, lembrei-me, vá lá saber-se porquê, da última carta que recebi da Bé. ( nr. 52 ). Datada de 01 de Junho de 1968. A penúltima, para ser mais exacto. (a última, com carimbo de Luanda, 1970, anunciava um próximo casamento...). Entre as duas datas, um enigma que ainda hoje persiste.


Rui Manuel
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Arlequim Coffee
Cape Town 1-6-68
Sábado

Querido
Estou num restaurante italiano enquanto espero por duas colegas, pois combinámos vir almoçar juntas aqui e depois vamos a um cinema. Ainda não sei o que vou ver, mas talvez vá ao

" Cinerama ", já há bastante tempo que não vou lá.
O tempo continua péssimo. Está um frio horrivel e choveu toda a manhã. Ah! uma novidade, esta noite caiu um bocado de neve na " Table Mountain ". Já há 50 anos que não caía neve nesta montanha. Calcula o frio que está. Eu só me sinto bem na cama com os cobertores todos em cima de mim. Tenho a impressão que vou morrer de frio este Inverno.
Ainda não recebi correio teu mas tenho esperanças que a minha colega me traga uma carta pois quando saí de casa ainda não tinham feito a segunda distribuição. Hoje se não tenho correio tenho um desgosto...um feriado e um fim de semana sem carta é muito.
Estou também preocupada com o teu estado de saúde. Não sei se estás melhor ou não, mas espero que já te sintas bem. Eu passei uma semana bastante boa e estou muito bem disposta.
Ontem como te mandei dizer, fui a uma pequena festa. Diverti-me imenso pois estava imensa malta conhecida e o ambiente era óptimo. Mas durante toda a festa pensei imenso em ti. Preferia estar contigo aí, enfim por ora não é possivel.
Rui Manuel, gostas de festas ? Preferes festas grandes ou festas íntimas ?
Eu pessoalmente não gosto muito de festas. Gosto de vez em quando de dar em minha casa uma festa pequenina e convidar um grupo de amigos íntimos e assim se passa uma noite divertida a dançar, conversar, rir, jogar, contar anedotas, etc. Agora género de festas de sociedade, detesto solenemente. Já apanhei muitas tareias por desaparecer ( eu e o T. ) de casa quando tinhamos festas em casa. Às vezes estavam 20 e 30 pessoas e nós não conheciamos ninguém. A última que apanhei tinha 14 anos. Havia um jantar em casa e eu e o T. resolvemos desaparecer. Foram encontrar-nos na capoeira a brincar com os coelhos. Nesse dia tinha estreado um vestido branco mas quando apareci em casa o vestido estava quase preto...Enfim bons tempos...
- Na mesa ao meu lado estão dois sujeitos com um aspecto horrível. Olhos e unhas pintadas e cabelos compridissimos. Não percebo como é que é permitido numa cidade deixar andar estes idiotas nesta figura. Dá vontade de lhes dar uma valente tareia. Aí em Lisboa veêm-se muitos rapazes deste género ? Usam-se os cabelos compridos ? ( rapazes claro ? )
Há tempos li um livro sobre o grande problema dos Sul-Africanos. " O divórcio ". O número de divórcios em Cape Town é de 60 por mês.
O Autor, depois de discutir o caso, dizia que o tribunal depois de cuidados estudos, tinha chegado à conclusão que as 3 principais causas de divórcio neste País eram:
1º Homossexualidade.
2º Frieza da mulher Sul-Africana.
3º Relações extra-matrimoniais.
e se nós nos dedicarmos um pouco a estudar e observar os Sul-Africanos chegamos à conclusão que realmente esta teoria está correctissima.
...Em todas os cantos se veêm sujeitos do género destes que estão aqui sentados ao lado. Têm entrada em todos os lugares públicos, fazem o que querem e ninguém os incomoda, não há leis não há nada. A rapariga sul-africana desde os doze anos que anda na rua com rapazes. Os pais por sua vez fazem uma vida horrivel, enfim é uma miséria, mas faz pena ver tudo isto.
Bem, hoje estou muito bem disposta para estar a falar disto, aliás lembrei-me do assunto por causa destes moços.
Agora vou deixar-te pois as minhas colegas devem estar a chegar. Logo à noite continuo a escrever. Adeus Querido.

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domingo, fevereiro 27, 2011

Azulejos - Gracinda Candeias





Portela de Sintra, junto ao apeadeiro da CP

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sábado, fevereiro 26, 2011

Memórias...

Foto de Luis Pereira, publicada no Blog " A Saloia "
Foto de ontem


Olá Pai.
Neste momento em que já não está connosco (está, eu sei, mas noutra dimensão, a olhar por nós) não consigo tratá-lo por tu. Como agora se usa, frequentemente. Sempre houve esse respeito (distancionamento?) entre nós.
Pai, ontem fomos fazer uma visita de despedida à Quinta. Nós, os seus filhos. A propósito de um livro que o professor Daniel escreveu. Havia uma tremenda necessidade de rever sítios, avivar memórias, fechar também uma porta (a porta da garagem e não só...).
Não ía conhecer a quinta, Pai. O jardim de cima ao abandono, lixo, folhas caídas à volta da palmeira. A casa vazia, lá em baixo. A rua grande que dá acesso à estufa. Aquela maldita estufa onde o seu pai, e meu avô Gabriel, se pendurou. Não vi um gancho, se calhar foi retirado, só vi uma travessa de madeira e acho que foi ali que aconteceu. O Pai sabe...
(Contaram-me do grito lancinante que o Pai deu, ao abrir a porta, grito ouvido por sua irmã, lá ao longe, na " Ilha das Cobras ").
O terreno do jogo, Pai, está diferente. Vi o muro por onde às vezes a bola saltava. Jogávamos lá, eu pequeno, com o professor Daniel e o irmão, amigos de quem todos gostávamos. O Pai foi, penso eu, o melhor guarda-redes do Sport União Sintrense.
(Lembro agora a sua zanga, era eu garoto, quando não quis acompanhá-lo a Alverca, aonde ía jogar).
O tanque da cisterna está vazio (lá em cima tentei puxar a argola, levantar a tampa, impossível). Das framboezas, apenas as estacas e os arames que as sustinham. Desapareceu a grande ameixoeira que eu via, vergada pelo peso, carregadinha de frutos. Desapareceu tanta coisa, Pai.
Não ía gostar de ver, de certeza. A quinta da raposa (houve mesmo raposas, algum dia?) alí ao lado, também abandonada.

Mais tarde, ao fechar, de vez, a porta da garagem (cuja chave, já devolvi) sentímos que se fechou também um ciclo.
(Como todos gostávamos daquela quinta, tão bem cuidada pelo pai e pelo avô).

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sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Re(encontro)

Encontrei o Ruy um destes dias. Já não o via há anos. Da última vez andava meio curioso/meio desesperado à procura da Bé. Uma correspondente-namorada(?) da África do Sul, fim dos anos 60. Falei-lhe nisso e encolheu os ombros. Penso que desistiu de vez, depois de ter pedido algumas ajudas e ninguém lhe ter ligado.
Agora, uma obsessão: rever a Ema. Disse-me que gostava de a conhecer pessoalmente. Acho que só a viu uma vez, em Lisboa, no lançamento de um livro (no Porto, não se recorda...). Viu-a ao longe, na mesa das apresentações, não teve coragem de lhe falar. Pensou, com a sua timidez de sempre, que ela era de outro mundo, inacessivel. (o Ruy sempre fora assim). Agora comunicavam, nas novas redes sociais. Falou com ela, uma, duas vezes no celular. Mas o que o Ruy francamente desejava era vê-la de novo. De mais perto. Sem receios. A morar no Fogueteiro, sabia-a em Setúbal. Uma cidade grande. Quem sabe se virá a ter coragem para a convidar para um café, dois dedos de conversa? Pelo que conheço do Ruy, acho que vai ficar pelo sonho.

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quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Lições do Abismo

" Hoje contei tudo isto com a certeza de que nada ouviste, neste momento em que as horas passam e continuo sem dormir, desejaria que tudo voltasse atrás, à casa de Telheiras e à tua infância, à escola e aos elogios da professora, ao teu pai a ganhar menos mas a amar-me mais, à avó Margarida cheia de força a fazer todas as semanas baba-de-camelo/musse de caramelo, ao nosso pacto que não quiseste cumprir.
É noite ainda, não começaram os ruídos da cidade a despertar, o nosso (teu) gato descobriu que não durmo e afia as unhas nos pés da cama, o pai muda de posição mas não acorda, continuo sózinha. O silêncio que a tua partida provocou, a ausência de ruído no bairro por ser de madrugada, esta casa lúgubre onde nada se passa, são tranquilidades falsas que me apavoram. "

Lições do Abismo - Daniel Sampaio - Círculo de Leitores/Editorial Caminho, pág.74-75

O Abismo para o qual não caminho. Mas que vislumbro, lá ao longe. Aqui, agora, há tranquilidades falsas que também me apavoram.
Postado às 01,59 (madrugada, sem dormir, com a Gatinha a meus pés) para " ir para o ar " às 09,55h, como sempre.

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quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Serviços mínimos...


Um Azulejo e Janelas.
Museu Ferreira de Castro / Sintra

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terça-feira, fevereiro 22, 2011

Ter o bolo...

1. Temos de tomar decisões. A propósito de tudo e de nada, somos quotidianamente compelidos a tomar decisões. Algumas não têm grandes consequências mas outras, embora na altura nos pareçam de somenos, deixam rasto, até mesmo permanente, nas nossas vidas ou na nossa forma de viver.Se tivéssemos sido treinados para decidir e para sofrer as consequências das nossas decisões talvez não chegássemos a momentos da vida em que ter de decidir parece uma tarefa hercúlea, muito para lá das nossas capacidades. Talvez.
2. Mas o facto é que vivemos em ambientes protegidos em que sabemos, até muito tarde, que alguém tomará conta de nós se as decisões que tomarmos derem para o torto. Podemos desistir das actividades que escolhemos que ninguém nos cobrará. Podemos mudar de curso porque haverá quem compreenda. Podemos fazer meia dúzia de asneiras grossas que ou porque somos jovens, ou porque até costumamos ser boas pessoas, ou porque estávamos em más companhias, ou porque não houve intenção e nem foi por mal, alguma solução há-de ser encontrada. Em última análise, podemos mesmo passar décadas sem nunca sentir necessidade de tomar decisões já que alguém por perto se oferece para o fazer por nós, como se permanecêsemos indefinidamente no mundo da infância. Alguém nos diz o que temos de comer, vestir, que sítios visitar, quais as pessoas com quem nos damos e que actividades fazer.
3. Depois, um dia, porque sim, temos de decidir mesmo. Temos de equacionar se queremos ter um filho ou permanecer sem responsabilidades, se queremos ter um companheiro ou continuar sem compromissos, se queremos mudar de emprego ou não correr riscos, se queremos esforçar-nos para atingir objectivos ou desistir deles.
Um dia, o carril acaba e ficamos por conta própria a perceber que não se pode ter tudo nos nossos próprios termos. Que escolher um caminho significa abandonar um outro, e que até não escolher acaba por ser uma opção de não envolvimento que na prática resulta como se tivesse escolhido. Um dia descobrimos que as avós tinham razão: não se pode ter o bolo e comer o bolo.


Isabel Leal - Psicóloga
Notícias Magazine

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segunda-feira, fevereiro 21, 2011

HOJE...

No canto superior/médio do G.MAIL, está lá uma saudação:
Serenidade encontrada. Agora falta o resto. E " tá quase " .
O quase, já podia desaparecer. Encontrada mesmo.
Mas...hoje acordei em dia não (ou assim-assim). Sem explicação. Inquieto, cheio de medos(?), coração alterado, aos pulos - como se estivesse apaixonado e não é isso.

(É certo que o "meu" SCP vai ganhar hoje ao SLB. E assim coloca o FCP - que detesto - mais isolado a caminho do título. Mas não vou por aí. De futebóis, apenas o gosto do verde desde menino)

Um dos meus " rebentos ", personal coach, escrevería que a solução está em mim e que sózinho terei que (re)encontrar a serenidade. Outro, crente convicto, mandaría ler  SALMOS 55-22. Ambos têm razão.

Já está a passar... Devagar, mas passa. E até pode acontecer que no final seja um excelente dia.

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domingo, fevereiro 20, 2011

Educação


Zulmira Oliva(Sintra 14/02/2011) em " Opinião " - Jornal de Sintra de 18 de Fevereiro de 2011

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sábado, fevereiro 19, 2011

JANELAS - PARTILHA






Janelas de " Dulce Lázaro "

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sexta-feira, fevereiro 18, 2011

AZULEJOS - PARTILHA




 Azulejos de Bettips
Azulejo de Luisa (Poço-PPP)
Azulejo de MJ (Poço-PPP)

Azulejos de Pedro Macieira (Blog Rio das Maçãs)

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quinta-feira, fevereiro 17, 2011

Teatro / Estreia


" Parte uma perna ", Tiago Matias.

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quarta-feira, fevereiro 16, 2011

JANELA

Uma Janela e uma pequena estória (faz parte da História?).

ERA UMA VEZ...
Todo um trabalho de anos e milhares de fotos guardados num disco externo. De enorme capacidade de memória. (mas de fraca qualidade, vim a ver depois).
Disco avariado e os ficheiros " perdidos ". Primeiro, um " trabalho de sapa " de um amigo a recuperar os ficheiros. Depois consegui a troca por outro disco externo. Agora, outro trabalho que vai demorar.
( O tempo está chuvoso, aproveito agora porque depois Sintra precisa dos meus passeios...)

Passagem do disco emprestado para o computador. Escolher e guardar em pastas próprias todos os ficheiros que foram salvos. E a seguir, ordenados e, espero que em paz, passagem para o novo disco. À cautela, há ficheiros muito importantes que vão ficar ainda em DVD`S.
Foi neste trabalho de escolha que encontrei AS JANELAS. Já tiveram blog independente, tal como os AZULEJOS. Depois abrigaram-se no TransAtlântico e ficam lá muito bem.
Esta Janela marca o regresso desses dois temas.

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terça-feira, fevereiro 15, 2011

FOTÓGRAFO

Gérard Castello Lopes 1925 - 2011

Lisboa 1957

 Lisboa 1956

 Dafundo 1956

Paris 1985

"Imagens retiradas do catálogo da exposição de G.C.L. no Centro Cultural Português da Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris, em 1984"
Do jornal Diário de Notícias

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segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Dia dos Namorados


Em Fevereiro chuva, em Agosto uva.

14 de Fevereiro
2ª Feira
* S. Cirilo; S. Metódio, Bp
* S. Valentim
* Dia do Amor ou Dia dos Namorados

Dias vividos:45; a viver: 320

ASTROLOGIA
Apaixonados pelos locais com água; a sua frescura é sinónimo de relaxamento; procuram profissões ou actividades de lazer sempre em contacto com o elemento água; espelho de sua personalidade, a água é elemento primordial dos nativos de Aquário.
Incensos - Flores do campo
Pedra - Água Marinha
Metal - Chumbo
Cor - Azul

MERCADOS E FEIRAS
Chaves (fixo)

Algoz (Silves); Grândola, Mangualde e Odemira ( 2ªs Segundas-feiras)

Alcobaça; Almodôvar (2 dias); Alvaiázere; Armamar; Batalha; Castelo Branco; Elvas; Espinhal (Penela); Espinho; Felgueiras; Ferreira do Zêzere; Fornos de Algodres; Fundão; Odivelas; Pinhel; Tondela; Vieira do Minho e Vila Nova de Poiares (Todas as segundas-feiras)

JARDINAGEM
No Jardim proteger os pés-mães de crisântemos, com palha miúda para se obter mais estacas. Semear as flores anuais como ervilhas-de-cheiro, gipsófilas, manjericos, ciclames, cólios, sécias, etc. Colher amores-perfeitos, violeta, etc.
ANIMAIS
Fornecer às vacas leiteiras suplementos de farinha, amendoim e linhaça.

O Verdadeiro Almanaque Borda D`Água 2011
Editorial Minerva

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AMOR

A vida só se dá a quem se deu. - Vinicius de Morais

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domingo, fevereiro 13, 2011

Memórias do Passado - Anúncio(s)


Anúncio publicado no Diário de Notícias

Texto publicado no DN para o passatempo CEM PALAVRAS.
Sem data precisa mas anterior a 1999.


Já publicado no Blog " Unchained Melody " ou Travessa Larga ".

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sábado, fevereiro 12, 2011

Fio de Prumo


" Há uns dois ou três anos atrás, um grupo de jovens foi apelidado de «geração rasca». Tudo porque ousaram mostrar a nudez dos seus trazeiros, nos quais haviam inscrito as suas reivindicações. A atitude foi considerada ofensiva da moral vigente. Lembro-me de, à época, inquirida por um jornalista sobre o que eu pensava do assunto, ter respondido qualquer coisa do tipo: «Quanto ao meio escolhido - as nádegas - esteticamente não beneficiaram a mensagem. Quanto ao conteúdo, a natural rebeldia da juventude justificaria a provocação.» Mas acrecentei que « quem naquela altura da vida, não fizer alguns dislates, acaba, quase sempre, por fazê-los mais tarde. Com o inconveniente de, então, já não haver a desculpa da idade...»
A insolência do vocabulário ultimamente usado por alguns ilustres deputados e políticos desta praça, vem, não só pôr em causa as tentativas escolares e familiares de educar e ensinar boas maneiras, como justifica, plenamente, todos os abusos de linguagem, que um qualquer estado de alma dos nossos jovens possa ditar.
Há dias, um neto meu que, comigo, assistia ao canal Parlamento, olhava, atónito, para o espectáculo que ali se desenrolava. Perturbado, interrogava-me porque é que «aqueles senhores» gritavam em vez de falarem e se insultavam uns aos outros, sem sequer se ouvirem. Claro que aproveitou, logo, para me questionar sobre o «valor» dos meus ensinamentos, que contrariavam tudo a que acabava de assistir. E, mais grave, porque mais dificil, quis entender o papel da Assembleia da República. Na sua ingenuidade, insistia em saber porque é que o «dono deles»- que me perdoe o Dr. Mota Amaral, mas o meu neto tem apenas nove anos - não lhes ralhava e os mandava calar, como a sua professora fazia lá na escola. Fiquei siderada. Paralisada, como agora costuma dizer-se. E segui a técnica hoje tão em voga, quando se querem evitar crises. Ou seja, protelei. Mas terei, no próximo encontro, de apresentar uma explicação plausível. Tarefa que não vai ser fácil para alguém que, como eu, sempre disse a verdade a este neto, cuja aversão à política é, se possível, ainda mais visceral do que a minha. A agravar a dificuldade, já anteriormente havíamos tido longas conversas críticas sobre os excessos linguísticos e não só, que se verificam no futebol. Os quais, aliás, sempre havíamos considerado como modelos a rejeitar.
Se, a este exemplo de trazer por casa, se juntarem as surpreendentes declarações do presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi, que classificou de «estúpido» o Pacto de Estabilidade, deixando perplexo o senhor Solbes, teremos a exacta medida do nível reinante em Portugal e nesta hilariante Europa, à qual tanto nos orgulhamos de pertencer.
Vá lá adivinhar-se a razão por que todos estes incidentes me trouxeram à memória a tal geração rasca... Mas, acredito que, assistindo a tudo isto, ela tenha, hoje, um sorriso verdadeiramente angelical.
Enfim, parafraseando um amigo meu, «escuso de ficar descansada»..."

Quase nove anos passados, esta crónica tem toda a actualidade. A insolência verbal, quer no Parlamento, quer no futebol, está na mesma. Ou pior.

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sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Zé(s)

Foto/desenho de jornal

 
Por causa do meu espírito negativo ( passageiro, espero) hoje só me apetece recordar Bordalo Pinheiro.

... e aos políticos (quase todos) digo: Toma!

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quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Chalet

Jornal da Região - Edição Sintra - 09 Fevereiro 2011


Homenagem ao blog " Rio das Maçãs ", que tanto lutou por este tema.
("A menina dos olhos ", de Pedro Macieira)


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quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Borda D`Água - Juízo do Ano


O Verdadeiro Almanaque Borda D`Água 2011
Editorial Minerva

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terça-feira, fevereiro 08, 2011

BENDITAS SEJAM AS MOÇAS - 1


 " Não encontrei, até hoje, uma só razão para que alguém se matasse. Leio todas as cartas dos suicidas, cada uma mais absurda e ingénua.
A uns falta dinheiro. A outros amor de mulher.
Que frágil a Humanidade, ao desejar, constantemente, ser amada e rica!
Hoje, por exemplo, nos jornais da manhã, a notícia do rapaz que se atirou de um 10º andar, unicamente, porque era feio. Achava que as mulheres não o queriam para nada.
Dedico esta crónica a todos os homens feios do Brasil.
Sendo um deles, posso falar com autoridade, em nome da classe.
Fiquem certos, colegas, de que não há nada mais sem graça que homem bonito. São chatíssimos. Os verdadeiros canastrões da vida real!
As mulheres já não os suportam e se bandeiam, aflitas, para nós, que somos confortavelmente feios, encantadoramente feios, venturosamente feios.
Ai de nós, se não fosse a bobagem dos rapazes bonitos!
Não se cuidam, colegas. Ou melhor, cuidar, cuidam do cabelo, do colarinho, da gravata, do terno e dos borzeguins.
Feito tudo isso, acham que já cumpriram todos os seus deveres para com a Humanidade e Deus. Então, ficam aquelas figuras Ducal espalhadas pela vida, a dar um show de vaziísmo desastroso.

Enquanto isso, nós, os privilegiadamente horríveis, vamos cuidando de fazer alguma coisa - fazer, já que não somos.
Ou somos tanto por dentro, que não precisamos fazer nada por fora.
Vocês, meus caríssimos companheiros do Feiúra Futebol Clube, examinam, por aí, o enorme êxito dos feios.
Frank Sinatra, por exemplo. Não há homem que dê mais sorte com mulher, no mundo inteiro. E é feio mesmo.
Mas bonito tudo o que faz.
Basta sorrir e olhar, para que elas não queiram mais sair de perto.
Coitado desse colega nosso, que se atirou do 10º andar porque a companheira de repartição (sua última esperança de sucesso) negou-lhe um encontro. Coitados de todos aqueles que repetem suspirosos:
- Ah, eu não dou sorte com mulher!
- É engano, prezadíssimos irmãos! Eu, se tivesse pretensões amorosas e trabalhasse nesse ramo, em cada um dos meus fracassos lamentaria as desditosas mulheres que não dessem sorte comigo.
Conheço um homem que não tem nada de bonito.
É gordo, baixo e passa dos sessenta.
Foi não foi, está com uma mocinha pela mão.
Certa vez lhe descobriram um caso sensacional - uma mulher lindíssima, com quem ele teria dado suas voltinhas.
A roda onde estávamos, alguém fez a pergunta indiscreta de sempre:
- Que tal Fulana, é boa?
E meu gordo, baixo e velho amigo, respondeu não mais:
- Ah, não sei. Sei que eu sou formidável.

António Maria (1921-1964) - BENDITAS SEJAM AS MOÇAS
Crónica de jornal.

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segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Memórias do (meu) Futuro

Em homenagem ao Professor Daniel Sampaio.


Olá Raquel (É este o teu nome no livro que eu quiz escrever e acho que não acabei...)

Se fosse vivo, fazia hoje, 16 de Junho de 2046, cem anos.
1946, Borba, Alto Alentejo, na casa do caseiro - meu bisavô - da Quinta do General. Uma meningite tuberculosa, acho eu que foi isso, obrigou meus pais a partirem para Sintra, mais perto de Santa Marta em Lisboa (ou teriam sido as origens do meu pai, natural de Sintra, filho de um outro caseiro, a apressar o regresso?)
Calculo que nem te lembres do dia de hoje. Andas por aí, algures na minha memória. Eu já não devo estar na tua. Gostava de saber se os filhos cumpriram a minha vontade de ser cremado. E se atiraram as minhas cinzas ao mar, naquele local que eu pedi, perto das arribas, no Caminho da Aguda. Não sei mesmo, Raquel. Nem sei qual foi a tua reação, pois eu vim para "aqui " antes de ti. E "aqui", eu estou muito bem.
Será que isso agora é importante?

Lembro agora, Raquel, aquela madrugada de 7 de Fevereiro de 2011. Tinha-me deitado cedo na véspera. Um plaquinol para o lupus + mais um cêgripe auto-medicado. Se calhar o mais indicado tería sido um zyrtec que não havia em casa. E começara a ler uma entrevista com o médico neurologista José Bandeira Costa, sobre a memória. E o título do artigo começava assim:
" Se quer ter boa memória durma bem ". Acho que sempre dormi mal. Muito, mas mal. E naquela madrugada de 7 de Fevereiro de 2011, tinha eu sessenta e quatro anos, às três e picos da manhã - no relógio despertador os algarismos a vermelho - não conseguia dormir. A leitura de um livro de Daniel Sampaio (onde estará ele, hoje, 16.06.2046?) tinha " mexido " muito comigo. Também falava de memórias.
Naquela altura, Raquel, andava " à procura de mim ". E tu achaste muito estranho eu ter dito aquela frase.
(e, na memória quase esquecida, vi que tinha perdido os dois avôs de modo trágico. O avô Adão em Borba, arrastado por um borrego, corda atada ao pulso, até " rebentar" contra uma árvore. O avô Gabriel em Sintra, com outra corda, pendurado na estufa)
Naquela madrugada, agarrei no portátil e comecei a escrever no blog. (para publicar às 09,55h).
Mania minha, que sempre fizera do 0955 o meu número. Não de sorte, nem de azar. Apenas era o " meu número " (chegara a utilizá-lo em tudo, senhas de password, cartões bancários, etc, etc, nunca na lotaria...). Depois fui espreitar o Facebook, o correio de e-mail, e o blog (prevendo logo que não teria comentários, como quase sempre.)
Naquela madrugada de 7 de Fevereiro de 2011, achei que a casa era grande de mais, para dois seres a caminho da "terceira idade". (havia também a filha, a nossa Rita, mas que passava mais tempo em casa dos amigos do que na nossa). Ah, e havia a Gatinha que dormia aos meus pés, mas ocupava um espaço reduzido. Porquê falar nisso, agora?
O sono chegara de novo. Havia que desligar o computador. E tentar dormir até às sete/ sete e meia. Para começar outro dia. E mais um, e mais um, até ao dia final, que eu não recordo quando foi.

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domingo, fevereiro 06, 2011

Leis...

Diário de Noticias, 05 de Fevereiro de 2011

É de um debate destes que Portugal precisa. Para defender a Democracia.
Do modo que isto anda, " cheira mesmo mal ". E alguém anda a poluir o ambiente.

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sábado, fevereiro 05, 2011

JMT - O Cronista Indelicado


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Cavaco Silva falou ( mas pouco explicou )

" Desde já peço desculpa por regressar a este fastidioso tema, mas o Senhor Aníbal cumpriu a sua primeira promessa eleitoral e eu não podia deixar passar o facto em claro. Tal como dissera na campanha, no dia seguinte à vitória nas eleições fechou-se em casa a ler jornais e revistas e após uma semana de aturada reflexão decidiu publicar um comunicado no site da Presidência, onde esclarece as dúvidas da sua casa algarvia. Ou melhor: esclarece as dúvidas que lhe dão jeito e esquece todas as outras.
A única coisa de substancial que o comunicado diz é esta: Cavaco pagou 8133,44 euros de sisa em função daquilo que a administração fiscal entendeu ser a diferença entre os valores patrimoniais das casas permutadas. Correspondendo o valor da sisa a 10% dessa diferença, isso significa que as Finanças entenderam que a vivenda da Aldeia da Coelha valia mais 81 mil euros do que a vivenda de Montechoro. Não espanta: é três vezes maior, 30 anos mais nova e está a 200 metros do mar, enquanto a velha Mariani só tem vista para betão e turistas bêbados. Mesmo deixando de lado todos os imbróglios em torno das licenças de construção e o facto do negócio ter sido avaliado pelos intervenientes em 135 mil euros (quando escassos meses antes a família Silva pedia 400 mil pela Mariani) sobra isto: as próprias Finanças a afiançarem que Cavaco obteve uma clara vantagem patrimonial com o negócio. E uma clara vantagem patrimonial promovida por quem? Por uma empresa do universo BPN. Duvido que a Remax de Albufeira tivesse sido tão generosa com o senhor professor. E eu, que comprei casa há um ano e paguei todos os impostos e mais alguns, só tenho a dizer isto para encerrar o caso de vez: se é preciso nascer duas vezes para se ser mais honesto do que Cavaco, eu já devo ir para aí na quarta encarnação. "

João Miguel Tavares - Correio da Manhã de 04 de Fevereiro de 2011
Montagem do jornal. Sublinhado meu e em destaque na crónica.

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sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Memórias do Futuro - II


" ... o jardim da casa de Sintra                  ... O jardineiro suicida aparecia-me em sonhos a pedir perdão, o seu neto é agora avô como eu, quem sabe se também vai ao casamento de alguém, não sei como convive com o fantasma do avô e a visão da estufa da quinta de Sintra, a casa sombria está agora deserta e as framboesas da minha infância desapareceram para sempre. "

Daniel Sampaio - Memórias do Futuro - Leya / Caminho, pág. 48 e 49

Narrativa de " duas famílias ".

Tencionava acabar o livro naquele dia. Parque dos Castanheiros, logo a seguir à Fonte Mourisca.
Mas no livro, página 49, está um apontamento, a lápis. (E uma etiqueta colada).
"e no Parque dos Castanheiros, na Volta do Duche, está um frio de rachar. 11,35h. Vou à Piriquita comprar dois travesseiros. Para a Nela e para a Sara "

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quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Memórias do Futuro - I


" sozinho a sair da escola sem ninguém à minha espera, a caminho do deserto da casa da minha infância, os gatos da minha avó a pedirem comida, abandonados como eu na velha quinta, o jardineiro enforcado na estufa sem que ninguém me explicasse porquê. Durante anos entrei lá às escondidas, fetos gigantes, begónias em vasos de porcelana, o gancho enferrujado onde um dia ele se pendurara. A viúva sentada ao lado da minha mãe de lenço e vestido preto, a chorar a morte do marido, o jardineiro que me tinha explicado as flores numa tarde de nevoeiro, ao lado do neto que andava comigo na escola, o neto do caseiro e o filho do patrão. O gancho ainda lá está. Todos pareceram esquecê-lo nas obras da quinta, aparece-me em sonhos, uma mão inquieta me procura, estou de pé na estufa, olho para cima e o gancho ainda lá está "

Daniel Sampaio - Memórias do Futuro - Leya / Caminho, pág. 40 e 41


Narrativa de " duas famílias ".

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