segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Memórias do (meu) Futuro

Em homenagem ao Professor Daniel Sampaio.


Olá Raquel (É este o teu nome no livro que eu quiz escrever e acho que não acabei...)

Se fosse vivo, fazia hoje, 16 de Junho de 2046, cem anos.
1946, Borba, Alto Alentejo, na casa do caseiro - meu bisavô - da Quinta do General. Uma meningite tuberculosa, acho eu que foi isso, obrigou meus pais a partirem para Sintra, mais perto de Santa Marta em Lisboa (ou teriam sido as origens do meu pai, natural de Sintra, filho de um outro caseiro, a apressar o regresso?)
Calculo que nem te lembres do dia de hoje. Andas por aí, algures na minha memória. Eu já não devo estar na tua. Gostava de saber se os filhos cumpriram a minha vontade de ser cremado. E se atiraram as minhas cinzas ao mar, naquele local que eu pedi, perto das arribas, no Caminho da Aguda. Não sei mesmo, Raquel. Nem sei qual foi a tua reação, pois eu vim para "aqui " antes de ti. E "aqui", eu estou muito bem.
Será que isso agora é importante?

Lembro agora, Raquel, aquela madrugada de 7 de Fevereiro de 2011. Tinha-me deitado cedo na véspera. Um plaquinol para o lupus + mais um cêgripe auto-medicado. Se calhar o mais indicado tería sido um zyrtec que não havia em casa. E começara a ler uma entrevista com o médico neurologista José Bandeira Costa, sobre a memória. E o título do artigo começava assim:
" Se quer ter boa memória durma bem ". Acho que sempre dormi mal. Muito, mas mal. E naquela madrugada de 7 de Fevereiro de 2011, tinha eu sessenta e quatro anos, às três e picos da manhã - no relógio despertador os algarismos a vermelho - não conseguia dormir. A leitura de um livro de Daniel Sampaio (onde estará ele, hoje, 16.06.2046?) tinha " mexido " muito comigo. Também falava de memórias.
Naquela altura, Raquel, andava " à procura de mim ". E tu achaste muito estranho eu ter dito aquela frase.
(e, na memória quase esquecida, vi que tinha perdido os dois avôs de modo trágico. O avô Adão em Borba, arrastado por um borrego, corda atada ao pulso, até " rebentar" contra uma árvore. O avô Gabriel em Sintra, com outra corda, pendurado na estufa)
Naquela madrugada, agarrei no portátil e comecei a escrever no blog. (para publicar às 09,55h).
Mania minha, que sempre fizera do 0955 o meu número. Não de sorte, nem de azar. Apenas era o " meu número " (chegara a utilizá-lo em tudo, senhas de password, cartões bancários, etc, etc, nunca na lotaria...). Depois fui espreitar o Facebook, o correio de e-mail, e o blog (prevendo logo que não teria comentários, como quase sempre.)
Naquela madrugada de 7 de Fevereiro de 2011, achei que a casa era grande de mais, para dois seres a caminho da "terceira idade". (havia também a filha, a nossa Rita, mas que passava mais tempo em casa dos amigos do que na nossa). Ah, e havia a Gatinha que dormia aos meus pés, mas ocupava um espaço reduzido. Porquê falar nisso, agora?
O sono chegara de novo. Havia que desligar o computador. E tentar dormir até às sete/ sete e meia. Para começar outro dia. E mais um, e mais um, até ao dia final, que eu não recordo quando foi.

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4 Comentários:

Às segunda-feira, 07 fevereiro, 2011 , Blogger Unknown disse...

Há que começar a escrever, escrever, escrever...
Bom trabalho

 
Às sexta-feira, 11 fevereiro, 2011 , Anonymous Anónimo disse...

Gosto muito. Continua.
Há memórias do Alentejo que se cruzam: memórias terríveis de gente DO trabalho.
Como no Douro...
Bjinho da bettips

 
Às domingo, 20 fevereiro, 2011 , Anonymous Raquel V. disse...

Adorei! Não por causa do nome, coincidência, mas da tua escrita. Tens um estilo teu. Escreve, faz-me esse favor, continua.

 
Às segunda-feira, 21 fevereiro, 2011 , Blogger Zé-Viajante disse...

Vou continuar mesmo.
Depois se verá, se sai ou não...
O estilo tem um pouco de Daniel Sampaio. Só um pouco...

 

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