quinta-feira, abril 26, 2007

OBRIGADO


Mãe
Hoje trato-te por tu. Vais perdoar-me, não vais? Até à pouco tempo, enquanto estiveste connosco, nunca o fiz. Naquela altura isso não era próprio. E assim ficou.
As poucas palavras que me convidaram a dizer, no teu adeus, não saíram. Agora escrevo-te e só pode ser: Obrigado. Pelo teu Amor e dedicação.
Logo que nasci fui a causa de muito sofrimento para ti. Pela doença grave que eu tinha. Que tu soubeste contornar e acompanhar durante muito tempo. Até que tudo passou e ficaste muito contente.
Como contente deves estar agora, embora desse lado.
E, como não consigo pôr aqui tudo aquilo que sinto, mando-te mais um beijo - que não é o último, com certeza - e mais uma vez, obrigado Mãe por aquilo que foste.

sábado, abril 21, 2007

Ainda o Amor


Do livro " O Que é o Amor ? " retirei quatro textos, que aqui transcrevi.
Na altura, distraído como sempre, não acompanhei o desafio. Podería ter mandado algo ? Talvez. Mas se calhar não cabia na pequena folha que nos destinavam...

Invisual



Meu amor, guia-me, leva-me a Ver o Tejo, num velho cacilheiro. Já lhe sinto o cheiro, nesta mistura de mar e rio. É bom o vento que me acaricia a face, do mesmo modo que é bom sentir a tua mão na minha.
Guia-me, meu amor, até ao Jardim Botânico. Quero Ver tudo. Por teu intermédio. Quero cheirar as flores, as árvores, a terra húmida ( será que choveu ? ).
Guia-me até ao cinema. Quero Ver tudo. Aquele terno e brutal filme que vou sentindo, sobre uma pugilista, o seu mestre e o seu sonho. ( Vejo que choras, meu amor. Os meus olhos, baços, não deitam lágrimas mas também choram. Cá dentro ).
Guia-me até ao Parque da Cidade. Quero Ver tudo. Já oiço e sinto o chilrear dos pássaros. O latir dos cães que brincam com as crianças. As conversas dos reformados que vão jogando as cartas. A água que jorra daquela cascata.


...


Meu amor, deixa que eu te guie. Quero que sintas o meu corpo, como eu sinto o teu. Deixa que eu te guie, conduza teus olhos para me veres por dentro. Encaminha tua boca até à minha. Deixa que eu te guie, meu amor. Para que sintas toda a ternura que tenho por ti.
Deixa que guie os teus cabelos e com eles cubras meu rosto, meu peito. Deixa que guie a tua mão até que se funda com a minha e sejam só uma. Deixa-me guiar-te. Até completar o Amor.


quinta-feira, abril 19, 2007

O Jogo

Passados mais de 50 anos voltei a Alvalade. Não ao antigo estádio, já demolido, mas ao novo e futurista Alvalade XXI. Desta vez não foi o pai que levou o filho à bola ( no passado foi um amigo do pai que me levou ) mas o filho que levou o pai. ( Obrigado, Pipo, pela prenda antecipada )
O estádio e a sua grandeza. Belo, imponente, apesar de ser " taveira ".
As cores que me encantaram.
O anteceder do jogo. Uma multidão, alegre, fraterna,irmanados numa mesma cor. O verde da esperança.
A espera. A confraternização. A procura tardia de bilhetes que se sabia estarem lá, porque não era um " jogo grande ".
A entrada, com revista minuciosa, salvaguardando algum acidente.
As cadeiras, reservadas, que nos esperavam. Com muitas cores.
O relvado, lindo, de um verde que apetecia pisar, mas só acessivel a alguns eleitos.
A vigilância apertada para evitar, mais uma vez, que fossem provocados desacatos.
O show " à americana " de meninas bem dispostas, no centro do relvado.
E novamente a espera, agora do apito inicial.
A alegria colectiva, na ocasião de um golo, repetida dois minutos depois. E sentida, embora timida, pelos amarelos, na segunda parte.
A " mãe do árbitro " senhora que não vi, foi muitas vezes recordada. Quando as coisas não corriam de feição para o lado verde.
A minha terra alentejana- como sabíam eles? - apareceu várias vezes nos placards publicitários.
A assistência. Novos, menos novos e idosos, homens e mulheres com um único desejo: a vitória do seu clube.
O show mediático de fotógrafos e operadores de câmara, para além dos jornalistas desportivos.
No fim, a debandada. Ordeira.
Vi um espectáculo alegre. Gostei muito, embora não o vá repetir, pelo menos alí. (No Jamor, talvez, não é, Pipo?).



PS. O resultado? Ganharam os verdes e estão na final da Taça.



Fotos em " slide show ", mais abaixo.

SCP

quarta-feira, abril 18, 2007

Pôr-do-sol

terça-feira, abril 17, 2007

Vazio

Naquele tempo havia um Sonho. Era um tempo de céu azul, embelezado por farrapos brancos de núvens que traziam boas novas. Naquele tempo havia alegria. Não a do riso aberto (mas também) e sim a do sorriso e do brilhozinho nos olhos. Naquele tempo havia a certeza que os versos do T eram os certos : pode-se amar alguém que escuta a mesma canção. Naquele tempo as árvores da Floresta eram frondosas, muito belas, onde o Verde era a cor dominante. Naquele tempo, o Mar, seu grande encanto, era azul, muito azul. E quando se tornava cinzento era lindo na mesma. Naquele tempo podia caminhar por montes e vales que nunca se cansava. Era um tempo de calma e recolhimento. Naquele tempo havia um Sonho.
...

Certa noite, o céu carregou-se de nuvens negras. (Já de manhã tinha havido ameaças). Não choveu, coisa estranha. Mas o ambiente ficou muito pesado, impossivel de respirar. E veio a tristeza. Não aquela que aparecia a espaços, mas uma tristeza profunda que destruia. Os olhos, já cansados, não tinham qualquer brilho. Deixou de ouvir as canções que tanto amava e até os pássaros, que acordavam a manhã, ficaram mudos. As árvores da Floresta, secas e mirradas, tinham uma imagem aterradora e uma cor parecida com o negro. O Mar enfureceu-se, deixou de ser amigo. E ficou perigoso, não só para quem nele entrasse, mas para todos os que o olhavam.
As pernas que caminhavam por montes e vales ficaram muito cansadas. Tinham desistido.
Naquela noite o Sonho morreu. Ficou o Vazio.

sexta-feira, abril 13, 2007

Fuga

Estes exemplares "fugiram" de AZULEJOS.COM e entraram aqui para fazer algumas perguntas. A quem souber responder. Talvez os serviços de toponímia da Câmara Municipal de Sintra.
Placas lado a lado, no encontro de dois largos. Porquê a diferença de tamanho e de desenho?
Foi Afonso de Albuquerque mais importante do que D. Manuel I ? E, como curiosidade, qual a diferença entre Largo...e Largo DE ?
E esta placa, primorosamente adornada e com elementos complementares, significa que Francisco dos Santos foi mais importante que os dois anteriores?

Estas duas ruas, quase perpendiculares, são quase iguais. Quer em largura , quer em extensão. Na primeira existem algumas árvores. Na segunda menos. Será por isso que o Dr. Miguel Bombarda teve direito a uma Avenida e o Dr. Alfredo da Costa contenta-se com uma Rua ?
Ou é a Psiquiatria mais importante que a Obstetrícia ?



quarta-feira, abril 11, 2007

Amor


Veio hoje pelo correio o pequeno livro " O Que é o Amor ? O livro da blogosfera "( Edição Anjo Dourado ).
Tem textos maravilhosos. Escolhi quatro, não ao acaso, mas não significando que sejam os melhores. Foram os que mais me tocaram.
A ordem de colocação respeita a do livro.

FASES DA LUA - http://fasesdalua2020.blogspot.com


Amou-o em silêncio, por tudo aquilo que ele era, enquanto arranjava o jantar, dobrava a roupa, tratava do cão, esperava que ele chegasse. Amou-o enquanto ele preparava uma reunião para o dia seguinte, enquanto liam, já deitados, os dois volumes da mesma obra. Mas amou-o ainda mais quando ambos se fundiram num só, num êxtase que poucos conhecem, naquela reciprocidade de dar e receber, de exigir e respeitar, de se entregar mantendo-se a si próprio. E nessa dádiva um ao outro, adormeceram sorrindo. Como duas crianças, como se não tivessem idade, como se fosse outra vez uma primeira vez.




AVELÃS DE AMBOM - http://avelana.blogspot.com


Amor pela Terra, pelos sete filhos, pelos animais que trazia aconchegados na loja. Tempos difíceis, então - de guerra e racionamento, as senhas do pão nunca chegavam para todos e num acto de amor, ficava Amândio sem elas; tempos de denúncia e repressão em que se recebiam instruções de Lisboa para apontarem todos os que não votassem, na época em que não tinham luz nem água canalizada e o partido era um só. Amândio, num gesto de amor preenchia os cadernos eleitorais votando por todos eles...




PITANGA DOCE - http://pitangadoce.blogspot.com


Ele não estava preparado para amar
Ela tinha que o ensinar
Ele perguntou como era o sentir
Ela disse que o daria por completo
que se reconheceria nos olhos dela
que adivinharia seu querer e
dividiriam o riso e a dor
Falou-lhe do corpo
Ela disse que esquecesse tudo o que já vivera
Amariam com os olhos, mãos, palavras e sexos
Sentiria o ardor na pele ao mais leve toque
Quis saber do tempo
O tempo ? Será eterno
até que um de nós queira dizer adeus.





ALÉM DE MIM - http://paralemdemim.blogspot.com


Voltei-me...não te vi!
E no entanto...ainda há pouco o olhar falava...os gestos antecipando a ausência.
Voltei-me...não te vi!
As portas fechadas...
As janelas desafiando a lucidez do olhar...
Apenas aquele ruído da partida -- um som que se dilui na razão inversa da saudade!
O oposto da chegada, quando a pulsação é desenfreada e o olhar inquieto...
Depois...recompenso-me no verde dos teus olhos enquanto as horas se atropelam numa câmara lenta de bicos de pés...
... até que olho para trás...
... e sem saber porquê...sorrio ainda.



O que é o Amor?
O Amor pode ser o olhar um filho, um neto, e querer para eles o Melhor do Mundo.
O Amor pode ser a companhia ao Armando, invisual, num pequeno passeio de Domingo. O simples acto de ir ao centro de saúde levantar as receitas da vizinha que o não pode fazer, pode ser o Amor. O Amor pode ser tanta coisa. E pode ser, também, o acto de colher no nosso arquivo a mais bela foto que tivermos.

A rosa devia ficar no fim. Está no início por má colocação. As minhas desculpas. Afinal o Amor também pode ser perdão, não é ?

domingo, abril 08, 2007

Fotos com M

Moinho

Marco Azul

Matriz

(i)Moral

Macaquice

Moradia ambulante

Malabarismos

Medieval
Mamarracho

Magoito

Manta

Metropolitano

Mafra

Mar azul


sexta-feira, abril 06, 2007

Folar

Folar de pastelaria


A Páscoa sempre foi importante para mim. Mais do que o Natal. Foi num Domingo de Páscoa que a nossa menina foi baptizada de um modo muito especial. Completamente imersa num tanque, ela recebeu de Deus todas as bênçãos. Que ainda hoje se mantêm. Gastronomicamente falando é o folar a minha referência. Recordo as vezes que ia de comboio a Lisboa, a uma rua da Baixa (Prata ? Augusta ?) com uma oficina de sapateiro num vão de escada. Era lá que o estafeta (recoveiro, no Norte) deixava as encomendas que vinham do Alentejo. E a minha avó Maria nunca se esquecia de enviar na Páscoa três folares ( para além de outras iguarias ). Um com dois ovos para os meus pais e dois, com um ovo cada, para mim e minha irmã. Uma autêntica delícia. Feitos pela minha avó, com um sabor muito diferente dos folares da pastelaria. As saudades que eu tenho desses folares e da Avó Maria.


Para todos vós, os que visitam e comentam, os que visitam e não comentam ( se calhar com razão... ) os meus votos de uma SANTA PÁSCOA.


quinta-feira, abril 05, 2007

Via Blogosfera


UMA HISTÓRIA DE ENCANTAR

Deitas-te ao meu lado e abraças-me.
Contas-me uma história de encantar.
Volto à infância nos teus braços e escuto-te.
Toco-te. Beijo-te.
A história que me contas é tão bonita!
Nunca a tinha ouvido.
Acaricio-te. Abraço-te.
A tua história não tem fim.
Por isso é tão bela.
E eu...não me cansarei de a escutar.
Contada por ti.


Paula Raposo, «Canela e Erva Doce», pág.26, Editora Magna.



NADOS-MORTOS

Há palavras
que não chegam a nascer.
Ficam-se guardadas
em bocas cosidas,
como mariposas sem asas
impedidas de voar.

Há gestos
de transparência tingidos,
mal-paridos,
perdidos.
Nados-mortos abandonados
e nas mãos, esquecidos.

E há vontades!
Amarradas.
Mentidas.
Espartilhadas.
Com grilhetas mantidas,
Que morrem enfraquecidas
como palavras,
- guardadas.
Como gestos,
- impedidas.

Dulce Lázaro, « Index poesis - Colectânea de Poesia», pág. 109, Edição: O Farol e Scala

domingo, abril 01, 2007

História triste

A história de um gatinho triste


Tudo começara num jardim maravilhoso. Ao saírem, apanharam ambos o comboio da Felicidade. Passaram três dias de viagem conjunta e, por motivos ainda pouco claros, o gatinho escorregou e caiu na linha. O comboio, indiferente, continuou a sua marcha. Lá dentro continuava a gatinha.
- Paciência, pensou o gatinho. São só uns arranhões e isto passa. Ainda a vou ver de novo.
Deixou-se ficar sem saber o caminho para casa. E nem sequer sabia se queria voltar.
E aquele gatinho nunca mais foi o mesmo. Devido talvez a algum problema lacrimal não parava de chorar e de miar. Mas ninguém entendia os seus miados.
Um dia ainda contactou a gatinha antes desta partir para uma longa viagem. Depois, com a gatinha já longe, muito longe, miou desesperadamente mas não obteve resposta.
Durante muito tempo andou lá por baixo, nos caixotes do lixo, à procura nem sabia de quê.
Voltou ao local onde caíra do comboio, na esperança que passasse o mesmo ou outro que fizesse a ligação. Mas só encontrou silêncio e um monte de ervas tinha crescido na linha. Um humano dizia a outro que ali não voltavam a passar comboios.
O gatinho chorou até as lágrimas secarem. Encostou-se a uma travessa, depois deitou-se e miou até à exaustão. Ao perceber que não havia mais resposta fechou os olhos e adormeceu para sempre.