quarta-feira, novembro 09, 2011

614 - Quando o telefone toca(va)...

Publicado na Revista Notícias Magazine (Jornal Diário de Notícias) em 06.11.2011

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E foi assim. Naquela tarde o Ruy, meu colega de tropa, foi o "Matos Maia".
Ao tentar discar o número do programa apercebeu-se que alguém estava a fazer o mesmo. Experiente nas artes telefónicas (telefonista, era o seu posto) deixou que aparecesse do outro lado alguma voz. E, mais ou menos, foi deste modo:
«- Quando o telefone toca, boa tarde.
- É o senhor Matos Maia? Posso dizer a frase?
- Correcto, faça favor...
- OMO lava mais branco. E queria pedir a Melodia do Desespero, pode ser?
- Concerteza. Temos esse disco.
- E a que horas vai passar, pode dizer-me?
- A partir das vinte e duas e trinta.
- Então, boa tarde e muito obrigado.»

E, se o Ruy, numa fracção de segundos, não tivesse dito: «calma, espere aí, olhe que não ligou para o programa. Apenas houve um cruzamento de linhas e decidi brincar consigo», nunca a tería conhecido.
Calculo o espanto e desilusão da moça (pois era uma jovem que estava do outro lado da linha).

Fui jantar e aproveitei a saída até à meia-noite. Quando voltei, ainda o Ruy e a Ofélia (era este o seu nome) conversavam. Acho que ficaram amigos na altura. Ainda serão?


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«tinha dezassete anos quando me "enganaste" ao telefone. Liguei para o Programa (Quando o telefone toca, anos 60, não foi?) e num cruzamento de linhas pedi-te um disco. O Unchained Melody...
(........)
Desfeito o engano não desligaste, e até depois da meia-noite - quatro, cinco horas seguidas - estivemos a conversar. Estavas na tropa e eu esperava os meus pais, que do Largo da Cidade, vinham juntos para casa. Não esqueço a ternura da tua voz, nem a primeira vez que te vi, da janela da minha casa...»

Publicado num blog antigo, em tempos idos...

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2 Comentários:

Às sexta-feira, 11 novembro, 2011 , Blogger Lucia Luz disse...

Que bacana!
Quando encontramos alguém especial não vemos o tempo passar. A conversa vai fuindo...fluindo
Um abraço

Lucia

 
Às sexta-feira, 11 novembro, 2011 , Anonymous M disse...

Achei a história muito gira.

 

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