614 - Quando o telefone toca(va)...
Publicado na Revista Notícias Magazine (Jornal Diário de Notícias) em 06.11.2011
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E foi assim. Naquela tarde o Ruy, meu colega de tropa, foi o "Matos Maia".
Ao tentar discar o número do programa apercebeu-se que alguém estava a fazer o mesmo. Experiente nas artes telefónicas (telefonista, era o seu posto) deixou que aparecesse do outro lado alguma voz. E, mais ou menos, foi deste modo:
«- Quando o telefone toca, boa tarde.
- É o senhor Matos Maia? Posso dizer a frase?
- Correcto, faça favor...
- OMO lava mais branco. E queria pedir a Melodia do Desespero, pode ser?
- Concerteza. Temos esse disco.
- E a que horas vai passar, pode dizer-me?
- A partir das vinte e duas e trinta.
- Então, boa tarde e muito obrigado.»
E, se o Ruy, numa fracção de segundos, não tivesse dito: «calma, espere aí, olhe que não ligou para o programa. Apenas houve um cruzamento de linhas e decidi brincar consigo», nunca a tería conhecido.
Calculo o espanto e desilusão da moça (pois era uma jovem que estava do outro lado da linha).
Fui jantar e aproveitei a saída até à meia-noite. Quando voltei, ainda o Ruy e a Ofélia (era este o seu nome) conversavam. Acho que ficaram amigos na altura. Ainda serão?
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Desfeito o engano não desligaste, e até depois da meia-noite - quatro, cinco horas seguidas - estivemos a conversar. Estavas na tropa e eu esperava os meus pais, que do Largo da Cidade, vinham juntos para casa. Não esqueço a ternura da tua voz, nem a primeira vez que te vi, da janela da minha casa...»
Publicado num blog antigo, em tempos idos...
Etiquetas: Quando o telefone tocou
2 Comentários:
Que bacana!
Quando encontramos alguém especial não vemos o tempo passar. A conversa vai fuindo...fluindo
Um abraço
Lucia
Achei a história muito gira.
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