quarta-feira, janeiro 05, 2011

Hospital Fernando da Fonseca / Amadora-Sintra

Hospital Fernando da Fonseca, 5 de Janeiro de 2010
Um problema de hipertensão levou-me de novo à Urgência. Tratamento VIP, quer na ambulâcia (bombeiros competentes e atenciosos), quer no atendimento do Hospital. A começar na segurança, amável, na Triagem, directo ao ECG, médica logo a seguir, análises que demoraram algum tempo - menos que o previsto - tratamentos de enfermagem impecáveis. Instalações renovadas a lembrar os Hospitais Norte-Americanos vistos nas séries da Fox Life (e não só).
Não vale a pena adoecer para lá ir, mas merece uma palavra de apreço.

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Lembrei-me de recuperar um texto aqui colocado em Fevereiro de 2009, quando lá fui operado.
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Hospital Fernando da Fonseca / Seattle Grace Hospital

Passaram treze dias. O pior já lá vai. Agora é tempo de espera.

A cama desliza velozmente a caminho do bloco. Deitado, a olhar o tecto do corredor, consigo ver a hora. 14,45 h. Uma calma total a caminho da cirurgia (contentamento, até...). Das outras vezes o mesmo. Nunca as operações me preocuparam. Por norma, anestesia geral, depois o acordar e ver os resultados. Antes da entrada, uma pausa. Consigo ver, dentro da sala, alguns médicos. O Dr. João, o Dr. Victor e uma médica cujo nome desconheço.

(SGH em força-Meredith sorri e vejo Dereck a olhá-la. Izzie, a um canto, absorta)

Ainda antes do bloco, em antecâmara, uma passagem acrobática da minha cama para a marquesa (?) de operações. Um tapete rolante ajuda a movimentar um corpo pesado como o meu.
Bloco. 15,15h . Por cima de mim já estão os holofotes acesos. À minha volta um rodopio. O Dr. João, assistente, faz-me várias perguntas, todas burocráticas, até à chegada do médico anestesista.
(Izzie em conversa com George. Não vejo Meredith. Cristina está lá, embora a sua especialidade seja cardiologia)
Na preparação da anestesia o médico surpreendeu-me. Ordem para flectir os joelhos e juntar o queixo ao peito. Fiquei, literalmente, em posição fetal. Um arrepio na espinha quando me colocam compressas (?) frias nas costas. Em operações anteriores, um modo diferente de anestesia. Só percebo depois, quando o médico me diz que a anestesia está pronta. E eu, acordado. Porreiro, penso eu.Vou poder assistir, em directo, às manobras dos senhores cirurgiões. Até ao momento em que colocam, em posição estratégica, um pano verde a tapar-me toda a visão.
( A voz inconfundível de Miranda, Nazi como era conhecida. Com o habitual à-vontade vem perguntar o que fazem ali os seus internos. Derek, de imediato a justificar a presença de Meredith Grey)
São 15,30h e vai começar a cirurgia. Apesar da anestesia local adormeci quase de imediato.
No fim de tudo, a caminho do recobro, (já na cama, como fui lá parar?) ainda me despeço dos médicos. A viagem foi diferente da anterior. Só me lembro de já estar numa enfermaria e de serem 17 horas. Toda a parte inferior do meu corpo está inerte. Ao tentar mover-me sinto que barriga e pernas pesam toneladas. Tento erguer a cabeça mas é inútil. Volto a adormecer. Só perto das onze um enfermeiro me acorda e me oferece bolachas e chá. Percebo então que estou metido " num molho de bróculos ". À enfermaria tinham chegado entretanto dois doentes de cor que ocupam agora as camas à frente da minha. Por coincidência ambos com lesões no ombro esquerdo. Na cama ao lado um doente de muita idade não pára de gritar. Sei que não são dores pois a enfermeira-chefe assim o garantia. O doente estava bem medicado. Talvez fossem gritos de raiva, solidão, sei lá... No dia seguinte soube que era uma senhora, Nazaré de seu nome.
(Sinto falta da Meredith. Ainda não a vi, apesar de me aperceber de alguns médicos a sair e entrar na sala).
Acordo cedo. As persianas ainda estão corridas, mas alguma luz já passa pelas frestas. Sinto fome. Mas pior ainda, sinto falta de muita coisa. De imediato, do telemóvel (há um aviso na porta a proibi-los...). Preciso de falar com a família, dizer que tudo está bem, apesar de já o saberem. Preciso do jornal ou de um livro. Preciso, principalmente, de não estar ali parado, a olhar o tecto, sem nada fazer. O pequeno almoço chega a horas e com requinte. Podia escolher entre café, leite, chá, sumo, pão, bolos, doce e não sei que mais. Optei pelo mais simples. As janelas entretanto já mostram o vasto campo em redor do hospital. Lá ao longe vejo pássaros em bando mas não percebo quais são.
A meio da manhã veio o Dr. João.
(Onde estás, Meredith? Vou-me embora sem te voltar a ver? )
Após montes de recomendações - repouso, gelo, etc. - diz-me que tenho alta. Já nem preciso de almoçar no hospital apesar de isso me ter sido sugerido. Agora é esperar que me venham buscar e para isso há sempre filhos disponíveis.
Treze dias depois, com o pé e perna em gesso, e canadianas de apoio, cá estou de novo. Agora consulta de ORL. E tudo por causa de problemas de audição. Ou falta dela. A idade não perdoa.
(Nem eu vos perdoo, Meredith, Izzie, Cristina. Agora só vos volto a ver logo à noite, na RTP 2 em Anatomia de Grey.)

Fevereiro de 2009

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4 Comentários:

Às quinta-feira, 06 janeiro, 2011 , Blogger Maria disse...

:-)

 
Às quinta-feira, 06 janeiro, 2011 , Anonymous Anónimo disse...

Abraço meu, Zé. Cuidado com "as coisas boas" que fazem subir as tensões (e as más). Cuidado redobrado, enfim, contigo, que tantas madamas encontras no hospital da tua imaginação!
Bettips

 
Às quinta-feira, 06 janeiro, 2011 , Blogger Zé-Viajante disse...

Viciado em séries de Hospitais - Anatomia de Grey, Merci,(quase sempre) Serviço de Urgência, Clinica Privada (às vezes)estou quase " formado ".
E como sou cliente habitual, quer em consultas, quer em urgências (H.Capuchos e Amadora/Sintra)vou praticando.
Beijos a dividir pelas duas.
E hoje, há que AGRADECER.

 
Às quinta-feira, 06 janeiro, 2011 , Anonymous Luisa disse...

Não tinha percebido que tinhas feito tratamentos durante a tua estadia no hospital. Julguei que aquelas 6h tiham sido de espera.

Apesar de falares dos mal que afligem tantos, gostei muito dos teus textos. Realistas mas poéticos. Sabes tirar partido da dor.

 

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