sábado, março 10, 2012

647 - Uma história de casas...I

Ainda sobre a foto do Palavra Puxa Palavra (Fotodicionário)

1 - A casa da esquerda, onde morei muitos anos, era bonita. E localizada numa zona óptima. Mesmo à entrada do Centro Histórico. Nas traseiras, um verde de espantar e o mar ao longe.
Mas...não tendo os donos da casa as posses da dona da casa ao lado (ou se calhar sim, mas não vem para aqui) estava a dita casa, "a caír". Necessitava de obras profundas que não podiam ser feitas. Por mim, nem pensar. Por eles, não sei. E após a minha saída, algumas obras interiores (pobrezitas, a meu ver) foram feitas. Subindo a renda em flecha. Sabem como é, não sabem?

Hoje tenho uma casa óptima, numa zona "nem por isso", mas simpática. Ainda tenho muito verde e um Convento Majestoso no horizonte...
Apesar de tudo valeu a pena a mudança. Sinto saudades do local antigo, não da casa.
Apenas o meu querido Simão não me acompanhou. Vive agora para os lados do Convento.
(Mas quem sabe, afinal, quem era esse "sujeito"?)

"No nº 53, onde é hoje uma barbearia, foi uma oficina de alfaiate de José Luís Pires, amador dramático e que tinha uma bela voz. No andar inferior, viveu uma figura popular de Sintra, a «Tia Gertrudes», conhecida por «Bonecreira» (não sei porquê) (1). Era a parteira da terra. Julgo que nesse tempo distante não havia em Sintra quem possuísse diploma para exercer tais funções. Mas a nossa «Bonecreira», mesmo sem diploma e durante largos anos, ajudou a vir ao mundo milhares e milhares de meninos e meninas. E bastantes por cá andam ainda, já nada crianças, é verdade, mas disso a «Bonecreira» não tem culpa. Essa boa mulher morreu há muitos anos. Ainda a conheci, e tão bem, que parece que estou a vê-la"

(1) Recebi uma carta, cuja assinatura não consegui ler, dando uma achega para este trabalho. Eu disse no IX capítulo, que não sabia a origem da alcunha de «Bonecreira», pela qual toda a gene conhecia  a simpática «Tia Gertrudes», que foi parteira cá na terra. É isso que a carta explica: ela apareceu em Sintra integrada numa modesta companhia de circo, ou de bonecreiros como se dizia antigamente. A companhia dissolveu-se em Sintra e a boa «Bonecreira» por cá ficou ganhando a vida honradamente. Ao meu correspondente, práticamente anónimo, os meus agradecimentos.

Obras de José Alfredo da Costa Azevedo - I - Bairros de Sintra
Edição da Câmara Municipal de Sintra - Dezembro de 1997

Só conheci a barbearia. Do Senhor Oliveira. No rés-do-chão. Nas traseiras o barbeiro, tinha igualmente um gabinete de calista. Habitava no primeiro andar da moradia. Sua esposa morreu recentemente, quase centenária. E a barbearia ficou conhecida durante muitos anos pela «casa do papagaio», preso por uma corrente a uma gaiola apropriada. Quando «o louro» morreu, o Senhor Oliveira, em sua homenagem colocou lá um papagaio de cartão(?). Há quem em Sintra, ao falar nesta casa, a conheça ainda pela casa do bicho de penas.


Rua Dr. Alfredo da Costa - 51 e 53


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2 - Esta casa é LINDA. A meu ver, evidentemente. Ainda não teve a sorte de outras. Está à venda, há muito. A dada altura desapareceu a placa, limparam as ervas, onde outrora fora um jardim, e retiraram o lixo. E por aí ficou. Consta que foi comprada por dois famosos futebolistas (os homens "da massa", sabem como é...) talvez para investimento. Está de novo à venda. E quando for recuperada, se isso acontecer, deve ficar uma casa de sonho. Há por aí alguém intere€€ado ?

"No nº 9, segundo me informam, pois não é do meu tempo, foi a Tesouraria de Finanças mas, muito antes, no tempo da monarquia, foi um clube da burguesia da terra; tinha um grande salão de baile e, na cave, jogava-se a batota.. Mais tarde, teria os meus 15 anos, já lá vão 56, foi montada por António Soares Ribeiro, falecido em 25 de Março de 1962, uma agência de informações, que também se encarregava do pagamento de contribuições e deligências várias junto das repartições públicas. Encerrou há algum tempo. Ali teve também o seu escritório de advocacia o meu querido e saudoso amigo Dr. Porfírio de Sousa Martins, causídico distinto, alma de eleição e de uma honestidade invulgar. Hoje , tem ali banca o filho, Dr. Vitor Manuel Sousa Martins, honesto como o pai e para quem transmiti a amizade que me ligou a este. Recordando-o, escrevi umas linhas de saudade no Jornal de Sintra de 27 de Janeiro de 1968.. Repousa no Alto de S. João desde 8 de Janeiro de 1965.

"Obras de José Alfredo da Costa Azevedo - I - Bairros de Sintra
Edição da Câmara Municipal de Sintra - Dezembro de 1997






Rua Dr. Alfredo da Costa 9, 11 e 13


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3 - A casa ao lado (talvez sem o estigma do número 13) ainda estava pior do que a anterior. Não consegui fotos dela, quando estava em ruínas. Só fui a tempo de ver o começo das obras a que foi sujeita. Hoje, graças ao esforço de um importante construtor de Sintra (e amigo do Património) existe um pequeno hotel. A casa ficou muito bonita. O bom gosto impera no interior (e não só...)
Não consegui, no livro de José Alfredo da Costa Azevedo, encontrar qualquer referência a esta casa. Contam-me que funcionou ali em tempos um consultório de dentista ou laboratório de próteses dentárias.





Rua Dr. Alfredo da Costa, 15 e 17

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As esculturas da Volta do Duche (Arte Pública VIII) voltam um destes dias.

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2 Comentários:

Às sábado, 10 março, 2012 , Blogger Lucia Luz disse...

Zé histórias maravilhosas.
Que pena que aquela porta maravilhosa não foi aproveitada na reforma do 15/17.
Tão bom recuperar as histórias.
Adorei.
Um abraço

Lucia

 
Às segunda-feira, 12 março, 2012 , Blogger Justine disse...

Como eu gosto de casas antigas, Viajante! A imaginação dispara logo em flecha, e é um tal encadear de estórias...
Ah se eu tivesse €€€€€:-)))))

 

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