segunda-feira, novembro 20, 2006

Luís Fernando

SEIOS NUS

Nostalgia. Quando o filme era « proibido até 18 anos» era sinal que no filme - invariavelmente francês ou italiano - aparecia um seio nu, talvez até dois. Menores de 18 anos não podiam ver um seio nu na tela, sob pena de se acostumarem e saírem a reivindicar seios nus na vida real. Entre os 13 anos, quando tive a minha experiência sexual digna desse nome - com começo, meio, fim e, acima de tudo parceira- e os 18, vi 23 seios nus, contabilizados aí dez pares completos e três avulsos vistos fortuitamente ( decote descuidado, etc. ) que registei como brindes. Seios reais, vivos e palpitantes, não impressos, pintados, esculpidos, projectados numa tela ou sonhados. Desses 23 devo ter tocado nuns 14 (preciso consultar as minhas anotações). Mas não adiantaria usar esta argumentação com o porteiro do cinema. Sustentar que os seios de Martine Carol não teriam nada de novo para me dizer, pois não podiam ser tão diferentes assim dos da Ivani, não colaria. Com menos de 18 anos não entrava e pronto. Pela lei, eu não tinha idade para ver seios. Se tivesse visto algum por minha conta, não era responsabilidade do porteiro.
Os porteiros de cinema daquela época foram os últimos exemplos de intransigência moral da nossa história.



A LUZ DE EDWARD HOPPER

A luz que banha os quadros do pintor americano Edward Hopper é a luz mais triste do mundo. Alguém poderia escrever um tratado sobre as diferenças entre sociedades a partir da maneira como os seus pintores pintavam a luz, tentar explicar por que poucas coisas continuam sendo tão estranhamente americanas e evocativas como o Sol nas paisagens urbanas de Hopper e contrastá-la com o Sol de Monet ou Renoir, ou até o Sol de Van Gogh, que era o Sol da loucura mas não era tão desesperado. Alguém, mas não eu.


Do lado de lá - Lúis Fernando Veríssimo- Jornal Expresso

6 Comentários:

Às segunda-feira, 20 novembro, 2006 , Blogger Leticia Gabian disse...

Hoje (unicamente por minha conta e risco) estou me sentindo muito importante - Vou ao post da (era uma vez um) Girassol, e lá encontro o Mário Quintana, meu Gênio/Poeta de preferência entre os brasileiros. Chego aqui e dou de cara com o Veríssimo que já me alegrou inúmeras tardes e noites com suas criativas e divertidas crônicas. Hoje é o meu dia. É ou não é? Só falta a Pitanga!

 
Às terça-feira, 21 novembro, 2006 , Blogger Zé-Viajante disse...

E a Pitanga vai aparecer.
Do Verissimo tenho aqui muita coisa interessante, mas falta-me o tempo para publicar. Vou tentar dar um geito...

 
Às terça-feira, 21 novembro, 2006 , Blogger Maria Carvalho disse...

Belíssimo texto!! Beijos.

 
Às terça-feira, 21 novembro, 2006 , Blogger Xica disse...

Gostei muito dos textos.

 
Às terça-feira, 21 novembro, 2006 , Blogger Aldina Duarte disse...

Que belos textos sobre a vitalidade e a luz que podem ser demais, ou mesmo tristes...

até sempre.

 
Às terça-feira, 21 novembro, 2006 , Blogger bettips disse...

Vim pela mãozinha da verde menina verde. Achei muita graça à tua contagem de seios! Lembrei-me que vi um homem nu (estátua) no átrio das Belas Artes, aí pelos 14 ou 15 anos... e só olhava de esguelha...
Quanto à luz de Hopper, ela é pungente de tão crua e direita a nós (o café, a esquina). Abç

 

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