domingo, maio 06, 2012

669 - Dia da Mãe

 Estação de Sintra
 Estação do Rossio
Hospital de Santa Marta

Fotos do Livro "Estações Ferroviárias Portuguesas em postais ilustrados antigos", de Jorge Branco - Livros Horizonte
e foto de arquivo pessoal
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Lembra-se, mãe? Não, não se pode lembrar. Nos últimos tempos, e já lá vão cinco anos, já baralhava um pouco as coisas. Devido à doença, à medicação e ao resto. Quando a beijáva, chamava-se Miguel (seu neto) e perguntava: já tens netos? Surpreendia-me a sua fixação pela leitura. Sempre a mesma autora. Eram dezenas de livros de Agatha Christie, não sei se gostava mais do Poirot ou de Miss Marple, mas era um mistério para mim, como gostava de os ler.

Lembra-se talvez, pois era muito nova, quando me levava quase todos os dias (ou todos?) ao Hospital de Santa Marta. Aquela maldita doença, a meningite (na altura, quase mortal) tinha aparecido muito cedo, não sei se em Sintra ou ainda no Alentejo. E a sua dedicação, durante longos cinco anos, foi total. O pai trabalhava, a mana ainda vinha longe, e a mãe lá entrava comigo na estação de Sintra. Lembra-se dos comboios? Julgo que eram pretos ou de um verde escuro
(Um dia, surpresos, aparece o revisor, o tio Luís, pois nós viajávamos em segunda classe e ele só fazia serviço em primeira)
Saindo de Campolide, lá entrava o comboio naquele longo (para mim) túnel que ía dar ao Rossio. Fuligem por todo o lado e grande incómodo para todos os passageiros. Em Lisboa, passagem obrigatória pela Praça da Figueira (ainda havia a praça). Depois Portas de Santo Antão (ou Rua Eugénio dos Santos) Rua de S. José até Santa Marta. E alí, o Hospital. Onde me deram alta uns anos depois.

(Ainda hoje pergunto, como foi possível "safar-me", naquela altura. Fleming inventara a penicilia e havia algo a que chamavam Estretomicina(?). Se fiquei por aqui, por algo foi, mas ainda não descobri bem a razão...)

A mãe chegou a ouvir falar no TGV (sigla francesa que significa Trains à Grande Vitesse)? Queriam uma coisa dessas aqui para nós, mas devido a uma crise tramada, foi tudo anulado. Mas no Domingo passado, ao ir a Lisboa num dos comboios actuais, o que era aquilo senão um TGV? Comparado com os "nossos" comboios de então, não queira imaginar, mãe, o conforto, a velocidade, as novas estações renovadas,
(embora sinta saudades das antigas estações da CP)
e em Lisboa, debaixo de chão, imagine, havia algo parecido. Cheguei num pulo à Feira do Livro.
Não consegui fazer o percurso desde a Praça da Figueira até ao Hospital, como desejava, mas a idade já não permite. Mas não esqueci o percurso.

Passei anos e anos naquela linha de Sintra. O Pai havia de lembrar-se bem pois também fazia aquele trajecto diáriamente. Mas essa história conto-a noutro dia.

Hoje só queria estar mesmo ao pé de si. Afagar-lhe os cabelos brancos, olhar os seus lindos olhos, mesmo sabendo que já me confundia. A sério, mãe, goste ou não goste do que lhe vou dizer, queria estar aí consigo, abraçá-la. E não aqui. Não hoje.

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1 Comentários:

Às domingo, 27 maio, 2012 , Blogger M. disse...

Tão bonito, Zé!

 

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