sábado, agosto 20, 2011

598 - A Minha Coluna

CORO DOS EMPREGADOS DA CÂMARA

É tão vazia a nossa vida,
é tão inútil a nossa vida
que a gente veste de escuro
como se andasse de luto.
Ao menos se alguém morresse
e esse alguém fosse um de nós
e esse um de nós fosse eu...

...o sol andando lá fora
fazendo lume nos vidros,
chegando carros ao largo
com gente que vem de fora
(quem será que vem de fora?)

e a gente pràqui fechados
na penumbra das paredes,
curvados pràs secretárias
fazendo letra bonita.
Fazendo letra bonita
e o vento andando lá fora
rumorejando nas árvores,
levando nuvens pelo céu,
trazendo um grito da rua
(quem seria que gritou?)
e a gente pràqui fechados
na penumbra das paredes,
curvados pràs secretárias
fazendo letra bonita,
enchendo impressos, impressos,
livros, livros, folhas soltas,
carimbando, pondo selos,
bocejando, bocejando,
bocejando.

Poemas Completos - Manuel da Fonseca - Portugália Editora

...e a neblina correndo lá fora, num agosto de Sintra, já vai sendo costume. e nós, eu (sem a gata ou com ela?) pensando que o poema do Manuel precisava de música de fundo e nós, eu, não conseguindo fazê-lo ficamos um pouco tristes, mais ainda? e então continuamos a bater nas teclas - quase às escuras, vejo o ecran, pouco o teclado - e a cabeça, não só cansada, mas também, a dizer-me para parar, deletar, não percebes que isto só vai ser lido - será? ainda pensas que sim? - daqui a uns dias, pois escreves hoje e colocas no fim uma data diferente, sempre sempre à mesma hora, paranóia, que batoteiro é o google, quando estiveres ausente, lá longe, em terras alentejanas. as mesmas do Manuel da Fonseca que tu adoras e que gravas em MP3, quando estás prái voltado. e se escreves assim, se escrevo assim - a cabeça mais baralhada ainda, sem nexo - o mais natural é terem abandonado a leitura, se é que começaram... - nas primeiras linhas. esperamos, espero, que pelo menos o poema do Manuel tenha sido lido. esse sim é lindo. também triste é verdade. mas não é a vida dos poetas, todos fingidores, uma tristeza? e se continuasse aqui a teclar já não fazia mais sentido. o poema do Manuel, afinal nem está lá ainda. esta tecnologia até permite que o escreva depois e não antes. ninguém ficava a saber..., só eu e a gatinha, tal como a foto que ainda não sei qual é e que vou procurar.

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3 Comentários:

Às sábado, 20 agosto, 2011 , Blogger Justine disse...

Grande Manuel da Fonseca - amo todos os seus poemas!

 
Às domingo, 21 agosto, 2011 , Blogger bettips disse...

Os poemas dos simples
empregados
esmagados de papéis
e incúrias.
Nesse tempo ainda tinham emprego...

Manuel da Fonseca era um homem grande que dava voz aos humildes.
Abç

 
Às terça-feira, 06 setembro, 2011 , Blogger M. disse...

O belo poema vale por si mesmo, não precisa de música a acompanhá-lo.
A fotografia está linda, o teu texto um lamento. (Porque esperas tanto dos outros, Zé?)

 

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