segunda-feira, agosto 23, 2010

Cartas que duram


A partir de um texto de Raquel Vasconcelos "Tempos que se fizeram presentes "
Livro 22 Olhares sobre 12 Palavras " Edium Editores

...Se o seu secretário e confidente não se tivesse enganado nas pesquisas que empreendera, estava na porta certa.


...e ali estava um delicado coração de chocolate no meio de inúmeras cartas de amor com a sua letra



Abriu o roupeiro, cuidadosamente, quase um ritual. Havia bastante espaço e algumas caixas com recordações, recortes de jornais. Manias suas. (A maior parte tivera que dar quando mudou de casa...)
Procurou em todas as caixas e não encontrou as cartas que queria. Ainda viu uma câmara de video e uma máquina Kodak que trocara, anos 60 - 70, por uma moeda de 10 centavos, muito antiga.Um dia há-de ver se funcionam ou se vale a pena o arranjo. Naquele momento desisitiu das cartas.
Encontrou-as mais tarde, junto com outras de pouca importância mas que não quisera deitar fora. Lá estavam, presas num elástico. Um aerograma (não militar) vindo de Cape Town e mais 54 cartas numeradas e guardadas nos respectivos envelopes. Para além dessas havia mais duas ou três que ele não quisera, na altura, incluir no lote. ( E uma delas de interesse vital ). Releu o aerograma, reparou num pormenor que não recordava e passou, curioso à segunda carta. Viu duas ou três linhas mas o suficiente para notar uma diferença. O apelido mudara.Só um dia mais tarde, na carta nº 1 encontrou a explicação para essa alteração. A memória não ajuda e tinham passado quarenta e dois anos.

...

Rui ainda pensou que se tivesse um secretário e confidente, lhe pediria uma pesquisa. Mais uma vez desistiu.
Voltou a guardar as cartas onde sempre estiveram, o chocolate não o chegara a comprar e esqueceu mais uma vez a Bé.


(Tudo mentira na sua cabeça. Como esquecer aqueles três anos da tropa em que diáriamente, ou quase, o soldado o chamava e já dizia, como se vivesse a história: mais duas, nosso cabo ! )

2 Comentários:

Às segunda-feira, 23 agosto, 2010 , Anonymous Raquel V. disse...

A "arte" imita a vida, não é verdade?...

E nunca se sabe...

E como foi "perder um hábito" de três anos...? Dá que pensar...

:)*

 
Às terça-feira, 24 agosto, 2010 , Blogger Zé-Viajante disse...

" o nunca se sabe " indica esperança, Mas muito vaga.

Como tudo na vida,habituamo-nos às mudanças.O pior de tudo foi o desfecho. E ele está nas CARTAS QUE DURAM

 

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